29 de novembro de 2010

SORTE (2)

Um mendigo de rua pede dinheiro para comprar um pão. Seu café da manhã.  Ele não tem nada, pede uma cédula. Um real. Poderia ser até cem reais. Ele sorri, com seus dentes feios. Mas é um sorriso. Caminha livre pela rua. Não corre atrás de um relógio. Das horas. Não controla o minuto. O segundo. Não lembra a todo momento o poeta. Não joga pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. Eu não posso. Tenho horário. Tenho trabalho para fazer.
 Ele é descompromissado. Tem compromisso com o vidro dos carros.  Apenas olha para o motorista e faz um sinal. Uma alegoria. Muitas vezes age como um equilibrista, um exibicionista, mas é um pedinte, mais um na sinaleira. Que faz reverências. Parece um lord. Educado.
Se estivesse estudado, formado, estaria em outra. Talvez cheio de contas para pagar. Nesse ponto ele é mais feliz. E se ele entra numa lotérica, juntando cada real que eu lhe dei. E marcar os números certos da loteria, da mega-sena, seja lá o que for. Ele não será mais mendigo. Tomará lautos cafés da manhã. Não fará mais a mesma coisa. Continuará educado, fazendo reverência à vida.




Segue o blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário