14 de julho de 2013

MOMENTOS NA CAFETERIA

O ERMITÃO

Certa ilha enfeitava a paisagem de uma praia, enquanto lá vivia um estranho ermitão. No bom dicionário ele é um solitário. Essa pessoa vivia muito bem obrigado na ilha, entre coqueiros e uma andorinha que outra. Na mais perfeita paz.
Um dia, apareceu um pacote boiando na praia. Em geral, eram coisas que caiam de embarcações ou uma garrafa, vez que outra. No pacote tinha um celular. O homem olhou aquilo e enterrou na areia. Mas o bicho falava, começou a tocar lá no buraco. Ele o desenterrou e apertou nos botões, sem decifrar nada. O tal celular ficou de lado, até acabar a bateria. Outro dia, outro pacote. Agora era uma caixinha branca, com fios. Apertando e apalpando, começou a tocar uma música, que se ouvia de longe. Cada vez que colocava as pontas do fio mais perto, mais se ouvia. Lá ficou o ermitão, agora não tão solitário e não tendo só o balanço do mar como testemunha. Ouvia outros murmúrios. Som na caixa, o ermitão estava quase um dj, apertando sem parar nas teclas. E para finalizar, outro pacote. Agora a caixa era maior, tinha um pequeno computador lá dentro. Simplesmente ele colocou tudo em exposição, como uma loja, um camelódromo em plena areia.
De repente, uma lancha passou por perto com turistas. Os objetos de longe atraíram o pessoal, que se aproximaram, por pura curiosidade. Acharam o rapaz um homem normal, devidamente aparelhado. Ofereceram emprego como guia turístico porque ele conhecia os arredores todos daquela praia. Aceita a carona, ele topou largar seu paraíso. Deu adeus à ilha, prometendo um dia voltar.
Dizem que o ermitão pisou em terra firme e nunca mais voltou. Foi visto tomando chope num bar com amigos, dando voltas num shopping, no supermercado, até já torce para um time da cidade. Mas tem uma coisa que ele não abandona. É visto nas cafeterias da cidade, quando estão mais vazias, com seu laptop . Fica olhando a tela, pensando longe. Volta e meia, baixa a cabeça e escreve. Não sei o que digita, mas está no seu mais velho estilo ermitão. Não presta atenção em quem passa, absorto, ele se desliga da paisagem contemporânea.
A ilha? Ficou para trás. Está no mesmo lugar fazendo companhia para a andorinha. Mas o mundo...esse gira.

 
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Um comentário:

  1. Burro este ermitão... deveria ter ficado no paraíso. Tenho curtido muito seus posts..... ah e q vontade de conhecer a praia de atlantida... este comentário vale para todos os posts daqui p/ baixo. bjks Simone Martins

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