31 de julho de 2012

KIT CONTO

A PONTUALIDADE

Benjamin era grande e forte. E, por esse motivo, mantinha respeito na portaria. Todo dia chegava cedo, pontualmente às seis horas, em meio ao fog londrino. De longe avistava-se aquele caminhar, como um vulto lentamente andando pela rua. Era meio fantasmagórico, como uma cena de filme. Mas, ao se aproximar, via-se logo que era boa gente. Quieto, pouco brincalhão, só sorria quando achava que uma coisa era muito engraçada. E logo voltava ao ar sério. Abancava-se no seu lugar de trabalho e lá começava um novo dia.

Era observador, não escapava um detalhe. Um trabalhador simples, como tantos outros. Mas havia uma questão: lutava contra os bocejos e com o sono que batia no início da fria manhã. Seus olhos marejavam. O sono lhe tomava um pouco o olhar, de tanto ficar ali parado. Pontualmente tomava um café às sete horas. Aos poucos, o pessoal chegava para trabalhar, precisamente às oito horas. A porta da entrada do prédio rangia ao abrir. Cada rangido anunciava o próximo candidato a entrar na portaria. Quando os olhos começavam a fechar e fraquejar, entrava outro e mais outro. A cada barulho, o olho abria. Uma piscadela e mais outra. E assim corria a manhã.

Benjamin conhecia a todos. O homem apressado, que passava sem deixar o rastro. A moça meio misteriosa. Todo dia ela passava, esboçava um sorriso, baixava a cabeça e entrava no elevador. O calmo garoto, o estagiário, aquele com o som no ouvido. Ao ser cumprimentado, sorria, como se estivesse ouvindo suas palavras. Acho que ele lê lábios...pensava o grande Benjamin, com ar paciente. E tinha mais aquele que saia e logo voltava, esquecendo o guarda-chuva ou uma pasta com a papelada. O porteiro havia decorado todos.

Um dia alguém passou e disse:

- Grande Benjamin!!!

Mais um apelido. Vá lá. E, com o tempo, como as pessoas vão abreviando as coisas, o chamavam de "Grande Ben".

Certa manhã apareceram três homens, eram do conserto. Vieram munidos de material para tirar o rangido da porta. Alguém reclamou e não foi ele, com certeza. Perguntam para o Benjamin se a porta é aquela, perto dele. Num segundo ele pensa e vai balançando a cabeça negativamente. A equipe segue pelo prédio. Decerto encontrarão outra porta e colocarão uma graxa, assim ela ficará boa de vez. Pelo menos garantiu por mais alguns dias seu alarme. Quando o olho piscar, a porta continuará avisando que lá vem gente. Pontualmente, como um grande relógio. Grande Benjamin. Grande Ben.

 

Segue o blog...

Nenhum comentário:

Postar um comentário